O bioplástico não é uma solução mágica para acabar com a poluição plástica

Por: Meu Copo Eco | Categoria: Sustentabilidade | Palavras-Chave: biodegradável, copo descartável, bioplástico

“Biodegradáveis”, “compostáveis”, “plásticos verdes", "bioplásticos", “biopolímeros” e de “base biológica": assim são chamados alguns copos, canudos e outros plásticos descartáveis apontados como a solução mágica para acabar com a poluição plástica. 

Usados muitas vezes em rótulos e slogans de marketing, produtos feitos desses materiais não são tão sustentáveis quanto parecem. 

O bioplástico é realmente mais sustentável do que um plástico comum? O que é um plástico de base biológica? biodegradáveis são compostáveis? Nós contamos tudo a você. 

Bioplástico

Uma palavra bonita… mas que não diz muita coisa. 

 Não existe um significado específico sobre o que é um bioplástico. Apesar do “bio” no nome, essa simples definição não torna um produto mais ecológico ou sustentável. 

Um bioplástico pode ser:

    1. De base biológica e não biodegradável.

    2. De base biológica e biodegradável.

    3. De base fóssil (petróleo) e biodegradável.

Ou seja, o plástico de base biológica, o biodegradável e o compostável são todos considerados "bioplásticos", mas eles não são sinônimos e portanto não significam a mesma coisa. 

Muitas vezes as empresas escrevem essas palavras buscando confundir o consumidor. O chamado marketing verde ou greenwashing, que atribui a um produto qualidades que ele na verdade não tem. 

Plástico de Base Biológica  

Um plástico de base biológica ou base vegetal é feito a partir de fontes renováveis (matéria orgânica, como cana-de-açúcar, milho ou mandioca) ou feito de uma mistura entre um plástico de fonte renovável e um não renovável (petróleo).

Segundo a norma europeia EN 16640 e a norma americana ASTM D6866, um produto de base biológica não precisa ser feito inteiramente de fonte renovável: muitas vezes esse tipo de bioplástico tem matéria não renovável na maior parte de sua composição.  

Esse bioplástico até pode ser biodegradável, mas quase nunca é.

Um estudo apresentado pelo Zero Waste France mostra que 60% dos bioplásticos de base biológica não são biodegradáveis. 

O plástico feito a partir de fontes renováveis ou o “plástico verde”, usado em itens descartáveis como os canudos, garrafas e copos plásticos, não se degrada na natureza, nem nas praias e muito menos no oceano — quase metade de todo o lixo encontrado no oceano é plástico descartável.

Sua produção é a partir de fontes renováveis, mas seu descarte causa tanto prejuízo quanto o descarte do plástico comum. No melhor dos cenários, esse bioplástico vai parar num aterro sanitário onde levará centenas de anos para se decompor. 

Plástico Biodegradável 

Se os bioplásticos de base biológica tentam tornar a composição do plástico mais sustentável — sem falar muito do seu descarte, os plásticos biodegradáveis tentam resolver o problema da decomposição. 

A premissa é a de que se criarmos uma solução para fazer o plástico sumir rapidamente podemos continuar com a produção e o consumo irresponsável de descartáveis.

Mas não é assim tão simples.

Um plástico biodegradável é aquele capaz de se decompor sob a ação de microorganismos e sob a influência de fatores como temperatura, luz e oxigênio. 

Ele pode ser produzido a partir do petróleo ou a partir de fontes renováveis (de base biológica), ou de uma mistura dos dois. 

Só que a palavra biodegradável numa embalagem, por si só, não diz muita coisa: qualquer plástico pode se degradar, alguns em meses outros em centenas de anos. 

O uso do termo “biodegradável” nos descartáveis não diz nada sobre as condições de biodegradação (solo, água, temperatura etc.) ou a duração do processo (semanas, meses ou anos). 

Ser biodegradável não significa de forma alguma que o plástico vai desaparecer na natureza depois que for usado. Ele não se decompõe se for jogado na rua, na praia, nem mesmo se for levado para um aterro sanitário. 

Para se decompor, plásticos biodegradáveis precisam de alta temperatura, o que só ocorre quando são levados para usinas de compostagem industrial. 

A Norma europeia EN 13432 trata da compostagem de embalagens. Ela define que o requisito mínimo que uma embalagem deve atender para ser considerada compostável, é a biodegradabilidade, ou seja, a capacidade do material compostável de ser convertido em CO2  sob a ação de microrganismos. A norma cita que pelo menos 90% de biodegradação deve ser alcançada em menos de 180 dias. 

A definição dada pela American Society for Testing and Materials é semelhante: na compostagem industrial, define 84 dias como razoável para fragmentação do produto, e 180 dias para desintegração completa da embalagem (ASTM D6400).

Essas duas normas falam de compostagem em grande escala. Além de não poder descartar um plástico biodegradável na natureza, você não vai conseguir fazer sua compostagem em casa.

Para esse material se biodegradar de fato, ele precisa ser descartado junto com o lixo orgânico e então compostado. 

Mas quantas são as cidades que fazem a coleta de orgânicos e enviam esses resíduos para unidades de compostagem?  

A impossibilidade do tratamento desses produtos biodegradáveis só confirma que com eles não é possível acabar com a poluição plástica. Além disso, grande parte do problema do plástico, o descarte inadequado na natureza, não é solucionado:

O copinho de plástico verde ou o canudo biodegradável abandonados na praia vão parar nos oceanos como grande parte dos descartáveis, e não vão se decompor tão cedo.  

Plástico Oxibiodegradável 

Deixamos o pior para o final. Os plásticos oxibiodegradáveis têm um impacto desastroso no meio ambiente. 

Os plásticos oxibiodegradáveis não são produzidos a partir de fontes renováveis, não viram composto, muito menos retornam nutrientes para o solo. São plásticos que recebem um aditivo que acelera sua degradação.

Uma vez na natureza, eles desaparecem de nossa vista, mas apenas para se degradar em micropartículas, os microplásticos.

Já escrevemos um post aqui falando sobre o problema que são os microplásticos para o meio ambiente. 

O bioplástico não é a solução milagrosa para acabar com a poluição plástica

É necessário ficar atento sobre estas alternativas "sustentáveis", "ecológicas"  e "biodegradáveis". Em geral, elas nunca são tão boas quanto parecem ser, e você pode estar sendo enganado.

Chamá-las todas de "bioplásticos", mesmo com suas diferentes características, causa confusão e desinforma o consumidor.  

A poluição causada pelo plástico é um problema que preocupa todo o mundo, e está cada vez mais insustentável continuar produzindo e descartando plástico da maneira que temos feito. 

Um bom primeiro passo é reduzir o consumo, recusando os descartáveis e optar por alternativas reutilizáveis ou retornáveis sempre que possível. 

Não existe uma solução milagrosa para a poluição plástica. Existem alternativas, com certeza, mas o bioplástico — seja ele compostável, biodegradável ou de base biológica, não é uma delas.

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